martes, 27 de septiembre de 2011

HERBART E

HERBART E O SISTEMA DA TEORIA EDUCATIVA


Extraído do livro História Geral da Pedagogia, de Francisco Larroyo.



      Johann Friedrich Herbart nasceu era Oldenhurgo (Alemanha) no ano de 1776. Em 1805 foi professor de Filosofia em Goetingen; mais tarde, em Königsberg, de 1809 a 1833. Morreu em 1841, depois de uma vida entregue inteiramente à atividade acadêmica. As obras pedagógicas mais importantes de Herbart são: Relatórios de um Preceptor, Pedagogia Geral deduzida do fim da Educação, Esboço para um curso de Pedagogia, Lições Preliminares sobre Pedagogia e Idéia de Pestalozzi de um ABC da instrução.

      1. O sistema da Pedagogia. - Com Herbart a história da educação tocou a figura mais importante do século XIX e uma das quatro cabeças diretoras (junto com Comênio, Rousseau e Pestalozzi) da Pedagogia clássica dos Tempos Modernos. Não é sem razão que suas idéias pedagógicas se propagaram, com êxito envolvente, durante toda a metade do século XIX e, ainda que detidas, de um lado pela doutrina neokantiana de Paulo Natorp e a neo-begeliana de Gentile, e, de outro, pela Pedagogia de Dewey e a atividade de Kerschensteiner, ainda contam, depois de formadas, com talentosos e brilhantes defensores.  Herbart construiu o primeiro sistema da teoria educativa, o primeiro ensaio de grande porte destinado a explicar e fundamentar o complexo e vasto fato educativo num corpo de doutrina. Pode-se dizer, com efeito, que Herbart conseguiu clarificar a turbamulta dos problemas pedagógicos à luz de uma ampla e congruente doutrina, tomando, como antes ninguém o havia feito, a tarefa de uma ciência da educação no verdadeiro sentido do termo, pois seus predecessores (como Locke, Comênio, Rousseau e mesmo Pestalozzi) se haviam limitado a encarar tópicos da educação sem atender a uma exposição de conjunto.
      Herbart não apenas empreendeu o estabelecimento e resolução de alguns problemas. Seu plano de trabalho foi um estudo abrangente e sistemático da vida educativa: desde os temas da Didática especial, na qual se revelou um talento criador, até as questões dos objetivos filosóficos e das relações da educação com a vida e a cultura, tudo tem ajuste pertinente na doutrina(1).
      Com nítida consciência da tarefa que se propôs, mostrou que, antes de tudo, é preciso diferenciar a Pedagogia como ciência, da arte da educação. "Qual é o conteúdo de uma ciência? Uma coordenação de postulados que constituem uma totalidade de idéias e que, na medida do possível, procedem uns de outros como conseqüências de princípios e como princípios de fundamentos. Que é arte? Uma soma de habilidades que há de reunir-se para conseguir um determinado fim. A ciência, pois, exige derivar os postulados de seus fundamentos - pensar filosófico; a arte exige atuar sempre apenas de acordo com os resultados daquele; não pode, durante sua execução, perder-se em especulações; cada momento exige sua ajuda; sua resistência apresenta mil pequenos obstáculos."  "É preciso diferenciar também a arte do educador culto da execução empírica da arte. Aquele sabe tratar toda natureza e toda idade; esta age por acaso, por simpatia, por amor paternal."
      "Qual destes três círculos é o de nosso estudo? Indubitavelmente nos falta a oportunidade para a execução real e, ainda mais, a ocasião para todos os exercícios e ensaios pelos quais unicamente se pode aprender a arte. Nossa esfera é a ciência. Por isso, temos que reflexionar sobre a relação entre a teoria e a prática."(2)

      2. A Ética: fundamentação da finalidade educacional. - Ora, qual é o ponto obrigatório de partida de uma teoria pedagógica? O conceito fundamental da Pedagogia é a educabilidade (Bildsamkeit), isto é, a ductilidade e plasticidade do homem para conformar-se com certo modo de vida regida por fins moralmente valiosos. Por isso, a Pedagogia, como ciência, depende da Filosofia prática e da Psicologia. "A Pedagogia mostra o fim da educação; a Psicologia o caminho, os meios e os obstáculos." A tarefa da educação reside em formar o caráter, que, na luta da vida, deve manter-se inquebrantável, e não, precisamente, pela força da ação externa sobre a pessoa, mas graças a uma resoluta e clara atitude moral. "Virtude é o nome que convém à totalidade do fim pedagógico. É a idéia da liberdade interior convertida numa pessoa em realidade permanente." Herbart enfatizou, no Problema moral, a importância decisiva do assentamento prazeroso na decisão da vontade. O homem, como já o havia demonstrado Schiller, deve realizar o bem com íntima e fecunda alegria, com prazer estético. As apreciações e valorizações por íntima e prazenteira inclinação (em sua linguagem, "representações estéticas") incluem, ao mesmo tempo, "o digno, o belo, o moral, o justo; numa palavra: o que agrada em seu estado perfeito, depois de uma contemplação perfeita". Em conjunto, cinco idéias definem, com rigor, este caráter moral que tem em vista a formação humana:

      a) A liberdade interior, vale dizer, a liberdade resoluta e cheia de gozo para desejar o bem.
      b) A plenitude de valores, que propende para a realização de objetivos nobres, cada vez em maior número.
      c) A benevolência, ou seja, querer o bem do próximo.
      d) A justiça, isto é, dar a cada um o que é seu.
      e) A eqüidade, recompensa e reparação adequadas.
      A estas cinco idéias ou virtudes correspondem, sucessivamente, cinco ideais sociais: uma sociedade de homens livres, um sistema de bens culturais, uma comunidade jurídica, um sistema de ideais e um regime de recompensas e salários eqüitativos.

      3. A Psicologia: supostos da Metodologia. - A formação do caráter não é a formação de certa faculdade do espírito, talvez da vontade. Herbart rejeitou "a doutrina das faculdades da alma". É errôneo considerar a alma humana como um agregado de faculdades. A vida psíquica é, para Herbart, um mecanismo de representações. Com tal conceito se aproximou, não pouco, da Filosofia mecanicista da Época das Luzes. "As representações são produzidas por sensações sensíveis e subsistem na alma uma vez que tenha cessado seu motivo exterior. Porém, como devido à estreiteza da consciência somente poucas representações podem chegar a ser conscientes, as demais ficam sob o umbral da consciência, onde, como molas de aço comprimidas, esperam voltar a surgir (reprodução). As representações são, pois, forças que se acham em luta entre si e se contrapõem ou se unem, segundo leis muito determinadas. Nas uniões de representações (associações) se baseia o mecanismo da memória e de todas as formas especiais e temporais de nosso representar. A acolhida de novas representações se realiza por massas antigas de representações semelhantes (apercepção). Os sentimentos e desejos não são nada independentes e, em nenhum caso, uma faculdade anímica particular. São apenas estados variáveis das representações, nas quais residem. Os sentimentos nascem 'quando uma representação se acha comprimida entre forças opostas'; os atos votitivos são produzidos pela pressão recíproca das representações." Herbart não reconheceu a liberdade da vontade no sentido de Kant. As massas mais fortes de representações determinam nosso agir, e, como a instrução pode criar tais massas de representações, vê-se, aqui, também a possibilidade da formação do caráter(3).
      Em última instância, esta luta das representações se explica metafisicamente, recorrendo a certo numero de elementos subjacentes na consciência chamados reais. Além disso, são suscetíveis de medir-se matematicamente os diversos estados psíquicos (Psicologia matemática).
      Em suma: a Psicologia de Herbart pode ser caracterizada como metafísica intelectualista, associacionista, mecanicista e matemática.

      4. Instrução educativa. - Assentadas estas bases, Herbart fixou os termos do problema teórico da Pedagogia: o caráter moral, finalidade da educação, alcança-se pela instrução, pela disciplina e pelo governo.
      A instrução (do latim, in-struo, edificar em) é o círculo de idéias que se vão construindo na consciência do educando, graças ao fato da apercepção. De acordo com o mecanismo da psique, tais representações são modificáveis e determinam, definitivamente, o comportamento e a ação do homem. Mas a conduta e a ação humanas são, assim, as mais evidentes manifestações do caráter. Portanto, a instrução tem um fim educativo a verdadeira instrução é instrução educativa. A instrução, no mero sentido de informação, não contém garantia alguma para fazer frente aos defeitos e à influência dos grupos existentes de idéias, que são independentes da informação recebida. Mas a educação deve apossar-se destas idéias, visto como a classe e o grau de ajuda que a instrução pode proporcionar ao comportamento dependem do domínio que têm sobre elas.  Assim, só é educativa a instrução que modifica os grupos de idéias que o espírito possui, impulsionando este a formar uma nova unidade de representações ou uma série harmônica de unidades, que, por sua vez, determinam o comportamento. Uma volição não é mais do que uma idéia que se desenvolveu cabalmente, realizando um círculo completo, que começa com o interesse e termina com a ação. Esta instrução educativa, que forma a vontade ou o querer e modela o caráter, é a verdadeira tarefa da escola. O meio de conseguir. esta instrução educativa é produzir, no espírito da criança, um interesse multíplice.

      5. Pedagogia do interesse. - Com efeito, a primeira condição para que o ensino seja fecundo é que excite o interesse do educando. "O interesse é a grande palavra, a palavra mágica da Pedagogia." Interessar a criança é depositar em sua consciência o gosto e íntimo atrativo da verdade, da beleza e do bem; não é um mero distrair ou divertir, mas a fonte da atividade intelectual. O interesse exclui a violência, suaviza o esforço até quase suprimi-lo. Tudo está perdido se, desde o princípio, se converte o estudo numa espécie de miséria e tormento.
      Para Herbart existem seis classes de interesses: três que provocam o conhecimento e três que provêm das relações sociais. As primeiras levam a conhecer as coisas, as segundas, a conviver com os homens. O interesse que se liga ao conhecimento pode ser interesse empírico, enquanto só se dirige à observação de objetos; interesse especulativo, quando conduz ao estudo das leis e relações das coisas e interesse estético, se traz em si a apreciação prazenteira dos fatos. Observar as árvores de um bosque é o resultado de um interesse empírico; reflexionar sobre as leis de seu nascimento, o produto de um interesse especulativo. Enfim, o interesse estético propende para sentir a beleza da floresta.   Os interesses que dão margem às relações humanas são: o interesse simpático, que impulsiona o homem a participar na alegria e na dor do próximo; o interesse social, que faz sentir o destino da classe social a que pertence, do povo, da Humanidade; o interesse religioso, que o guia ao sentimento de dependência a respeito de Deus.  Nenhuma das seis formas de interesse deve ser descuidada ou sacrificada. O interesse deve ser multíplice e equilibrado. "A flor não deve romper o cálice – a plenitude não deve converter-se em debilidade pelo excesso de dispersão em muitos sentidos. A sociedade humana julga, como necessária, de há muito tempo, a divisão do trabalho, para que cada um possa fazer bem o que empreende. Mas quanto mais se limita, se divide a empresa, tanto mais se multiplica o que cada um recebe dos outros. Pois como a receptividade espiritual se baseia numa afinidade de espírito, e esta, por sua vez, sobre exercícios espirituais semelhantes, é evidente que, no reino supremo da Humanidade propriamente dita, não podem permanecer isolados os trabalhos até o ponto de se ignorarem reciprocamente. Todos hão de ser diletantes de tudo, cada um há de ser virtuoso numa especialidade. Mas a virtuosidade particular é assunto de eleição; pelo contrário, a receptividade multíplice, que só pode originar-se das multíplices tentativas do esforço pessoal, é assunto da educação. Por esta causa consideramos como primeira parte da finalidade pedagógica a multiplicidade do interesse, que é preciso diferençar de seu exagero, da multiplicidade de ocupação. E posto que os objetos da vontade, as próprias orientações particulares, nos interessam todas igualmente, para que não destoe ver a debilidade ao lado da força, acrescentaremos este predicado: multiplicidade equilibrada."(4).

      6. Passos formais. - O interesse aviva a atenção e esta, posta em movimento, enriquece a experiência (o círculo de idéias) do aluno, graças à apercepção.
      A atenção aperceptiva pode ser aplicada a um objeto isolado para captá-lo fielmente em sua totalidade, ou então trata de associar diversos objetos ou elementos de uma coisa. No primeiro caso fala-se da apreensão analítica; no segundo, da consciência sintetizadora. A apreensão e a consciência podem, por sua vez, ser consideradas, sucessivamente, em estado de mera contemplação estática (intuição) ou em estado de movimento (processo discursivo) Da combinação destas manifestações da atenção aperceptiva, derivam-se os quatro graus, etapas, momentos ou passos do ensino. chamam-se "formais", porque apresentam a forma geral mercê da qual o educando pode apropriar-se das mais diversas matérias de ensino, e são:

      I. A apreensão estática, durante a qual o educando contempla, claramente, um objeto: etapa da clareza ou da demonstração do objeto.
      II. O trânsito de uma apreensão para outra: etapa da associação ou comparação.
      III. A compreensão de diversos objetos em sua profunda relação mútua: etapa da sistematização ou da generalização.
      IV. O processo da consciência para aplicar em sua mais variada forma o conhecimento adquirido: etapa do método ou da aplicação.

      Um exemplo pode ilustrar a didática dos "passos formais". Tema da lição: "Os Planetas." Primeiro momento do ensino, a clareza ou intuição: observar num planisfério celeste o movimento de algum planeta (Vênus). Segunda fase do processo: comparar Vênus com outros planetas. Terceiro grau do aprendizado ou generalização sistemática: caracterizar, em geral, estas espécies de astros chamados planetas (definição de planeta). Quarto passo, ou seja, a aplicação do conhecimento adquirido: estabelecer urna comparação entre os planetas e outras classes de astros, formular e resolver problemas astronômicos de distância, de velocidade etc.
      Veja-se como o último "passo" é um grau de associação mais amplo do que o terceiro; mas, como tal, suscetível de servir de base para uma nova sistematização, e, assim, sucessivamente. Por isso, Herbart preconizou esse método didático à maneira de um processo eficiente para assegurar a continuidade do ensino, pois "não há verdadeiro ensino, senão quando uma noção nova se intercala em seu lugar, na série de noções já percebidas, e forma uma das malhas do tecido, um dos elos da corrente".
      Com esta idéia da continuidade do ensino, acha-se unido a Herbart o pensamento da concentração ou unificação dos estudos. Em particular, Herbart recomendava os Poemas Homéricos como centro de ensino.

      7. Teoria da disciplina e do governo escolar. - A idéia de concentração ou unificação do ensino respondia, definitivamente, à necessidade de colocar todo o processo educativo a serviço da formação do caráter moral, em cuja tarefa, a disciplina alcança efeitos diretos, imediatos, diferentemente da instrução que opera de forma mediata. A disciplina se dirige à vontade do educando; pretende conformar o caráter deste com vistas a uma conduta moralmente valiosa. Para chegar à intimidade do aluno e atingir os objetivos que se propõe a formação disciplinar, é preciso levar em conta as disposições naturais e o gênero de vida da criança e do jovem. "As naturezas enfermiças sentem-se dependentes; as robustas arriscam-se a desejar."  As regras da disciplina podem ser ocasionais ou contínuas, podem impulsionar ou conter, regulamentar ou auxiliar.  A tarefa educativa também recorre a expedientes externos para proteger a ordem da vida: tal é o objeto do "governo". As crianças têm apetites naturais de luta; provocam desordem e causam danos. Para contê-las, impõe-se uma série de medidas aplicáveis de grau ou por força. Se se pretende alcançar esta finalidade, mediante a formação do sentimento de eqüidade nas crianças (o que constitui um verdadeiro ideal educativo), já se está no campo da disciplina propriamente dita. O governo, como tal, prescinde destes efeitos internos. Os meios de governo são a ameaça, o castigo, a admoestação etc.; normas externas a que todos estão submetidos igualmente. "A disciplina, pelo contrário, atua de um modo contínuo e sempre com as vistas no futuro do aluno e suavemente, como a providência benigna. Ao governo todos se acham igualmente submetidos; a disciplina, pelo contrário, tem em conta a individualidade e se ajusta a ela em suas admoestações, ameaças, censuras; em seus alentos, louvores, recompensas. O governo tem seu papel especialmente nos anos da primeira infância e nos períodos de particular perigo; mas tem de desaparecer, tão logo seja possível; pois 'as crianças e os jovens hão de ser ousados para chegar a ser homens'. Onde se governa muito não se pode desenvolver nenhuma espontaneidade pessoal, nenhum espírito de invenção, nenhum ânimo arriscado, nenhuma atitude previsora, nenhum caráter forte, consciente de sua finalidade." Em suma: uma conduta de vida real, mas, ao mesmo tempo, de elevação moral.

      8. Relação da escola com a vida. - Exatamente, devido a este objetivo da educação, Herbart não desatendeu, como verdadeiro sistemático, as relações da educação com a cultura, e da escola com a vida. Percebeu como a escola, amiúde, se esquece dos afazeres do mundo, mas acentuou, com fina acuidade, a tarefa vital e social da Pedagogia. "Da escola para a vida, e, por sua vez, volta da vida para a escola; esta seria, sem dúvida, a melhor caminhada que se poderia seguir. Mas se as circunstâncias não permitem isto, se, de acordo com as formas sociais, o homem de escola e o homem do mundo são duas pessoas completamente separadas, que não podem trocar comodamente seus lugares, poderemos apontar uma vantagem precisa, interna, de um sobre o outro? Mui dificilmente! Pois ambos contribuem por igual para representar na sociedade e para manter eficaz uma coisa dupla, porém unida; como tão freqüentemente se verifica nas relações humanas, segundo estejam divididos os trabalhos, cada um tem que contar com o outro, que deve completar sua atividade. para que esta, considerada por si só, não seja algo inútil."(5).

      9. Idéia de experimentação e demonstração pedagógicas. - Herbart não foi somente um teórico puro. Como professor, durante toda a vida, não se limitou a discorrer ex-cathedra sobre os resultados de suas reflexões; sempre teve perante os olhos a tarefa de comprovar sua doutrina, através da experiência metódica. Quando foi designado professor em Königsberg, em 1810, considerou propícia a circunstância para organizar, como complemento de sua cátedra, um centro prático de experimentação pedagógica. A iniciativa provinha de Kant, que cena vez disse: "É incontestável que faltam escolas normais e escolas de experiências." Herbart realizou tão fecunda idéia: instalou em Königsberg um seminário pedagógico no qual, sob sua direção, dez estudantes se preparavam para os misteres do ensino. Anexo a este seminário, estabeleceu-se uma escola primária de experimentação e aplicação, na qual um número reduzido de crianças (mais ou menos quinze) proporcionava a oportuna ocasião de pôr à prova as idéias de Herbart e de demonstrar sua anelada eficácia. Tal foi o nascimento destas instituições que, a partir daí, foram consideradas como imprescindíveis nas escolas normais em todas as panes do mundo.


      10. Juízo sobre Herbart. - Um acerto da Pedagogia de Herbart é o fato haver reagido contra os excessos do Idealismo especulativo e romântico, que, partindo da atividade criadora do eu, terminou por exaltar as nebulosas e arbitrárias construções deste. Em seu lugar sustentou uma concepção objetiva e um tanto intelectualista do mundo e da vida. Por esta via chegou, como já se disse, a forjar, embora herdando toda a tradição pedagógica, o primeiro dos sistemas de uma ciência da educação. Para isso, não se satisfez em apelar para a Ética e a Psicologia, já constituídas em sua época, em busca dos fundamentos de sua doutrina pedagógica. Herbart mesmo formulou uma Psicologia e uma Filosofia moral e estética, de reconhecida importância na história das idéias, por suas imediatas e benéficas repercussões. Herbart conseguiu, por seus livros e sua ação pedagógica, o reconhecimento geral de que a educação e o ensino constituem tarefas difíceis e complexas, que requerem, para serem atendidas, um preparo científico especial. Alguns de seus pensamentos, produto de uma excessiva sistematização, tiveram desenvolvimento eficaz e pertinente, como a idéia da radical concentração didática. Como coordenar a época homérica, por exemplo, com o ensino da matemática, ou o aprendizado da língua e da literatura com o da geografia astronômica, sem cair num extremo mais ilusório do que prático?
      Por outro lado, é certo, Herbart não compartilhou as idéias de um Fichte sobre a educação nacional e pública, e sua Psicologia é Metafísica e construída sobre a base de elementos anímicos, embora refutasse, com êxito, a antiga doutrina das faculdades da alma. Mas esta e outras deficiências, vistas à luz de sua época e ambiente, não anulam seus rendimentos excepcionais. Suas idéias sobre o interesse, os graus didáticos, a disciplina, a formação do caráter, a criação de escolas experimentais como processo para reformar a educação. e multas outras, converteram-se em tópicos pedagógicos que encaminharam a ciência e a técnica da educação pelas rotas mais seguras, desde o século XIX. Ademais, como já se disse, sua obra, em conjunto, representa a sistematização inicial de urna teoria pedagógica; assim se encontram, em germe, algumas de suas peças de construção em Comênio, Locke, Rousseau e Pestalozzi; e sua Psicologia, ainda que de fundamento metafísico, já postula métodos psicométricos, tão ponderados décadas depois.